Originalmente lançado para Nintendo DS apenas no Japão como Ni no Kuni: Dominion of the Dark Djinn ganhou sua versão aprimorada, Ni no Kuni: Wrath of the White Witch, exclusivo do PS3, possuindo enredo e jogabilidade semelhantes ao console portátil, estreando por lá em 2011 apenas chegando nas demais regiões a partir de 2013 com trabalho meticuloso de localização de texto e voz para vários idiomas, infelizmente não possuindo a língua portuguesa no catálogo. Mas, essa importante ausência pode ser suprida por quem preferir inglês, francês, espanhol.

O jogo narra Oliver, um garoto de coração puro que, com ajuda dos seus amigos precisa salvar um mundo paralelo ao seu, foi considerado sucesso de vendas recebendo mais tarde o selo Greatest Hits do PlayStation. Produzido pela Leavel-5 responsável entre outros títulos por White Knight Chronicles, entra na lista dos RPGs orientais bem avaliados no videogame da Sony, conta ainda com colaboração do Studio Ghibli da premiada animação A Viagem de Chihiro (2001) na composição artística ajudando criar cenários e personagens característicos as suas obras, também inclui inserção de pequenas cenas animadas. Sendo distribuída através da Bandai Namco que tradicionalmente exporta muitas produções japonesas ao ocidente como One Piece: Pirate Warriors, Os Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball Z.

De início parece resultado da mistura do Final Fantasy, colocar a salvação de uma existência inteira nas mãos de um garoto e sua trupe, com Pokémon representado aqui nas figuras dos familiars, monstrinhos que podem duelar entre si ou então inimigos específicos contando com sistema de evolução, onde a partir certo momento consegue capturá-los. Aos poucos dá para realizar upgrades, alimentar e o mais importante alternar a posse dessas criaturas entre membros da equipe sendo possível numa batalha fazer parte da seleção de um personagem e inverter na seguinte, por exemplo.

A dinâmica do jogo segue como o ponto alto, existem infinidades de materiais, táticas e magias tanto ao alcance durante as lutas quanto fora delas apesar de parecer confuso nos primeiros momentos revelá-se funcional. É um sistema fluído que possibilita o jogador experimentar combinações sem qualquer tipo de medo tendo o auxílio da Wizards Companions, livro que Oliver carrega, nele é possível tirar dúvidas, saber mais da história do lugar, as evoluções dos mascotes com suas principais características e poções sejam elas de equipamentos, itens ou receitas mágicas. Claro, de início com poucas informações, entretanto, no decorrer da aventura complementos vão sendo desbloqueados.



Mite, primeiro familiar conhecido do jogo, e Oliver, o personagem principal.


O enredo cativa aqueles que gostam de ver uma boa estória, mescla de forma agradável elementos de aventura com o sistema do RPG. A jornada encanta, apesar da abordagem pra lá de obscura opta pela suavidade através personagens e locais que surgem ao decorrer dessa empreitada como a Fairyground, pequena aldeia na qual vivem as fadas deste universo, nela está localizado o Cavity Club, existindo um palco de comédia nele. As missões do lugar também envolvem esse clima infantil, dentre elas, salvar bebês fadas sequestrados por criaturas malignas encontradas dentro da barriga da Mãe das Fadas.

Durante evolução outras passagens seguem caminho inverso mostrando lados mais sombrios potencializado nas Cinzas Sagradas onde moradores dos reinos são transformados em zumbis, para demonstrar desolação a paleta de cores antes colorida ganha tons pálidos. Em síntese Ni no Kuni é o embate do bem contra o mal, como tal conta com a presença de aliados e inimigos, basicamente Oliver ajuda resolver problemas em cada cidade que passa, como gratidão os governantes liberam páginas da Wizards Companions e deixa suas contribuições nos objetivos dos heróis.

A incrível trilha sonora, composta pelo diretor musical Joe Hisaishi, auxiliado por uma orquestra à moda antiga torna o título tanto quanto mais charmoso, é de uma harmonia perfeita, transmite sensações constantes, tornando cada momento único. Navegar pelo oceano, batalhar contra criaturas, voar nas costas de um dragão ou estar num navio voador ganham contornos épicos e a presença da sinfonia impulsionam esse momentos de forma arrebatadora, tudo é muito grandioso.

Mesmo tendo uma exploração linear, indo de um ponto para outro sem grandes alternâncias, com destino final sempre marcado por uma estrela gigante no mapa, o jogo compensa através dos ambientes ricos em detalhes. Cada cidade possui elementos únicos, exemplo, sediada no meio deserto ou estando num continente gelado, ficando na colina ao alto de uma montanha, sendo industrial baseada no minério de ferro, aquela ainda com saída para o mar e clima praiano. Aventurar-se em criptas, vulcões, florestas, pântanos, cavernas faz parte deste processo contribuindo de forma segura para diversidade das cenas.



Oliver voando pelos cenários de Ni no Kuni com a ajuda de Tengri, o dragão azul.


Os combates são desfiadores, nada comparado a série Dark Souls, mas sendo preciso muitas vez ficar restrito a uma região no intuito de progredir nos upgrades o que requer pouco de paciência ou então pode ser bem frustrante. Estudar fraquezas, criar equipamentos, comprar materiais, fazer sid quests são essenciais para ter êxito nos desafios que não são poucos já que quando se está caminhando em áreas selvagens é comum encontrar grande quantidade de criaturas próximas uma das outras e isso será problema caso esteja num nível não tão alto naquela localidade.

Contudo, apesar da boa estrutura mostrada pelo título ainda assim existem falhas, sendo elas pontuais. Por ser um RPG de apenas uma pessoa requer que a inteligência artificial cumpra bem seu papel durante os embates, mas nem toda vez será como esperado. Em certos ocasiões podem atrapalhar dependendo da tática utilizada, lutar contra os chefes necessita de estratégias específicas variando decorrente suas atribuições, ou seja, nem toda vez atacar de início vai funcionar sendo preciso escolher os movimentos de maneira prudente e em algumas oportunidades a AI não consegue compreender a ordem dada.

O enredo é dividido em duas partes distintas, uma salvar a mãe de Oliver e outra focada em salvar os reinos da ameça da Bruxa Branca (a do título). O problema é que tônica do jogo quase em toda totalidade é movida pela primeira razão, a motivação do protagonista está em evitar a morte de seu ente querido, tudo que faz é baseado nisso, poucas vezes se vê menções a tal bruxa, ela por sua vez surge de fato na estória nas últimas horas da jornada, antes ninguém sabia da sua existência. Outra questão é adição de um novo membro selecionável na reta final estando ele abaixo dos demais e sem grande serventia após tanto tempo já percorrido, antes teria sido uma importante ajuda.

Em suma, Wrath of the White Witch, é um ótimo jogo apenas pecando em pequenos detalhes, entretanto, nada que possa atrapalhar na condução da estória. Possui jogabilidade dinâmica, auxiliada por uma competente direção de arte e musical tornando a aventura ainda mais grandiosa em todos os sentidos até aqui. Título obrigatório para aqueles que gostam de um JRPG (RPG japonês) à moda antiga com uma trama inspiradora e que por ventura ainda não se arriscou nesse universo encantador.