Lançado em dezembro de 2020 o mais novo título do estúdio CD
Projekt Red, da aclamada franquia The Witcher, prometeu coisas demais em Cyberpunk
2077 e ao final entregou de menos. Contudo, mesmo com diferentes problemas o
jogo é um sucesso comercial tendo sido divulgado recentemente a venda de mais
de 13 milhões de cópias. Mas, finalmente o jogo é ruim ou bom?
Olhando pelo polimento e bugs é um desastre completo,
ficando evidente a prematuridade do lançamento. Apesar de inúmeros hotfixs e
patchs de correções, o mais recente é a versão 1.22, ainda assim apesar
de melhor em seu desempenho continua com problemas técnicos que podem variar de
situações inofensivas até ocorrências mais sérias a exemplo do fechamento do
jogo de forma abrupta ou circunstâncias que impedem a progressão durante certas
missões.
Partindo pela jogabilidade, enredo e composição visual o jogo tem méritos e eles não são poucos, entretanto, longe das promessas revolucionárias durante o desenvolvimento que foram intensificadas já na proximidade da estreia. O mapa apesar de não tão extenso quanto outras franquias de RPGs vistas ao longo da 8º geração de consoles possui uma vasta quantidade de atividades além da progressão principal.
A caracterização de Night City é sem dúvida um dos pontos
mais altos com vislumbre de obras como Blade Runner, Akira, Videodrome, Ghost in the Shell, entre outros são evidentes desde o início da campanha através influências de elementos orientais que aqui possui
grande peso, acessórios, veículos, tudo trabalhando a visão do futuro,
mas com um pé na representação do passado. Nesse ponto acertaram com méritos.
Outro aspecto positivo são as rádios existentes dentro do jogo onde há uma grande variedade de músicas e estilos que podem ser acessadas durante as viagens pelo mapa ou em situações variadas. O reportório é bem conduzido sendo também um dos fatores que agradam de modo geral.
Durante o período noturno é mais perceptível a beleza de Night City, principalmente em áreas como o centro da cidade com hologramas, outdoors, painéis de neon que funcionam para essa atmosfera, entretanto, mesmo aqui sendo competente apresenta deslizes a exemplo da diversidade das NPCs, a maioria são de composição genérica além de estarem em número reduzido nas versões dos antigos consoles, mas isso é justificado tendo em vista o poder de processamento dessas máquinas.
CAMPANHA PRINCIPAL E DEMAIS ATIVIDADES
Há aquelas que fogem disso, neste
caso são as que envolvem atividades de algum personagem secundário. Abrindo um pequeno enredo seguido por missões que geralmente é definido por resolver atritos e ao
concluir essas tarefas cria possibilidade para um possível romance ou ainda receber algum tipo de item que pode ajudar o resto campanha como armas ou veículos.
Uma curiosidade envolvendo os títulos das missões é que a versão PT-BR trás referências algumas músicas nacionais como Da Lama ao Caos e Banditismo por uma Questão de Classe (Chico Science & Nação Zumbi), Tiro ao Álvaro (Adoniran Barborsa), Fuscão Preto (Almir Rogério) fora mais algumas outras situações, por exemplo, envolvendo bordões de figuras públicas como Sérgio Malandro e do atual presidente da república, Jair Bolsonaro.
GAMEPLAY: JOGABILIDADE, CUSTOMIZAÇÃO E COMBATE
Durante o gameplay é possível observar tentativas na
implementação de diferentes sistemas onde algumas funcionam e outras não, em
resumo, tenta juntar aspectos bem-sucedidos de franquias já consolidadas no
mundo dos games como Destiny, Mass Effect e Watch Dogs, mas nada de inédito ou
inovador. Necessariamente não é ruim, em partes tem algum êxito, entretanto, passa longe das
promessas veiculadas durante a divulgação.
Os combates tendem na maior parte do tempo serem rápidos como
muitos dos FPS que seguem no mercado seja através das armas de fogo, lâminas ou
combates corpo a corpo, nesse ponto não existe muito o que ser dito uma vez que
tem bom resultado. Diferente de um Call of Duty aqui os inimigos são mais firmes
aos danos, possuem resistências e fraquezas comuns aos jogos de RPG e durante
confrontos de chefes requer rever estratégias, mudar o armamento por exemplo, entretanto, nada muito aprofundado. Apesar de ser enquadrado como RPG está mais próximo de um jogo de ação com elementos do gênero.
Aqui existe um sistema de investigação que lembra bastante a
franquia Batman Arkham onde o jogador pode acessar vídeos (chamado nesse universo de
neurodança) para buscar pistas sobre algum caso importante, entretanto, mesmo
sendo um artifício interessante é visto poucas vezes ao longo do tempo deixando
aquela sensação de ser apenas mais uma pincelada de uma ideia pouco explorada.
Também tenta se aproximar do que seria um GTA
futurista. Olhando pela distribuição do que fazer em seu mundo aberto onde
existem as ações policiais que intervêm em alguma atividade ilegal como atirar em civis, atropelar ou algo que seja perigoso.
Só que mais uma vez nada novo e pior com problemas que um GTA V lá de PS3 não tinha, uma inteligência artificial inoperante tanto por parte dos
policiais quanto da população que apenas ficam abaixados quando há um conflito
ou não reagir quando V tenta pegar um veículo com alguém dentro.
Sobre a customização talvez seja o ponto mais frágil, começando pela criação do personagem. As escolhas são limitadas e após concluir não é possível alterar qualquer característica algo que até em jogos mais antigos não é empecilho. O que mais chama atenção nessa seção é poder definir tipo e tamanho dos órgãos genitais como em Conan Exiles. O que foge um pouco são as modificações cibernéticas que melhoram atributos dando por exemplo os braços com lâminas ou imunidade algum elemento, neste ponto capacita sim para fazer inúmeras combinações mas tirando esse fator pouca coisa realmente vista ou percebida.
JOHNNY SILVERHAND, O DESTAQUE DE CYBERPUNK 2077
Sem dúvida o momento mais marcante para divulgação de
Cyberpunk 2077 aconteceu em 2019 quando o ator Keanu Reeves foi ao palco da E3
informar a primeira data prevista para o lançamento e revelar que estaria no
projeto com o personagem Johnny Silverhand. Desde então gerou mais expectativas
até finalmente ver qual era a importância dele inserido neste universo.
Durante a primeira parte da campanha permanece ausente passando ter destaque logo em seguida. O interessante é que em alguns momentos o personagem torna-se jogável sendo nessas horas possível conhecer mais sobre sua origem e ocasionalmente em alguma conversa isolada. Pelo ponto de vista apresentado mesmo V sendo protagonista, uma vez que o jogador comanda inteiramente suas ações, os principais eventos envolta do jogo estão relacionados ao Johnny Silverhand.
Em termos de dinâmica nenhum outro personagem consegue ter aprodundamento similar com um background devidamente construído e bem trabalhado. Johnny por mais controverso em uma primeira vista assimila melhor aquele ambiente, as pessoas, os pensamentos, tendo suas próprias opniões e motivações que em algumas partes são divergentes aos ideais das missões fazendo que nem sempre seja bom ouví-lo.
PÉSSIMA OTIMIZAÇÃO E PERFORMANCE, O GRANDE PROBLEMA
O maior vilão presente no jogo é sua performance pífia principalmente nos consoles base da geração passada (PS4 e XONE), neles é onde se encontram a maior quantidade de problemas e aonde a maioria das pessoas jogaram. Apesar do último patch (1.22) ainda assim contém uma série de falhas que aos poucos vem sendo melhoradas as deficiências ali presentes.
Não pode ser esquecido que bugs estão em praticamente todos
os jogos de videogames, agora a escala que isso pode acontecer depende muito do
polimento recebido durante ou após a produção. Cyberpunk 2077 evidencia uma
condução apressada para entregar algo visivelmente em processo de finalização
tanto que muitas dessas questões poderiam ter sido evitados caso não tivesse
tido essa aceleração desproporcional que prejudicou em questões técnicas um título tão aguardado pelos fãs.
A série de falhas passa ainda pelo desempenho abaixo da média
se tratando da estabilidade. Travamentos, atrasos nos comandos, texturas não
carregadas, fechamento do jogo tudo isso pode ser encontrado mesmo com a última
atualização. A diferença fica por conta que estão cada vez em menor quantidade
e olhando por esse ponto de vista não deixa de ser positivo, entretanto, reforça
novamente que para ter saído sem tantas conturbações era preciso mais tempo para
o desenvolvimento, talvez quem sabe ter sido lançado no final de 2021 ou em 2022.
O lado bom (ou menos ruim) é que a Cd Projekt Red, mesmo com inúmeras controvérsias segue buscando corrigir esses erros de programação. Mas, infelizmente tais soluções vieram tardiamente e isso vem manchando a imagem da empresa ao longo dos meses.
UM JOGO QUE MERECIA MUITO MAIS
Enquanto panorama geral tem elementos para a
construção de um ótimo jogo, contudo, analisando de maneira objetiva não cumpre
metade das coisas ditas no período pré-lançamento agravado ainda pela quantidade
excessiva de problemas técnicos. Em suma não é ruim, mas também
não é ótimo, de forma direta é apenas mediano. A liberdade prometida, a
revolução do gênero, o sistema inédito e outras promessas não estão presentes, quem sabe numa continuação (?).
A proposta vendida era excelente,
entretanto, a execução foi péssima, problemática e repleta de polêmicas. Por mais
que não reinvente nada o que consegue funcionar, na maioria das vezes, vai bem
mostrando que os adiamentos eram necessários além de precisar ainda de mais
tempo para desenvolvimento, erraram ao subestimar pontos mais críticos.
Seu conteúdo está incompleto e já foi sabido que algumas passagens terminaram removidas para cumprir a entrega no fim de 2020, provavelmente
esse material pode aparecer em forma de DLCs, mas nada oficial. O
que resta é aguardar outras atualizações uma vez que ainda existem falhas que
necessitam de atenção para assim melhorar a
experiência daqueles que jogam nos consoles base da geração passada apesar de hardwares
mais potentes também apresentarem inúmeros erros, entretanto, em escala menor.
É possível sim aproveitar Cyberpunk 2077 por mais que não seja nada daquilo prometido tem bons momentos, o combate é divertido e as missões rendem algumas boas horas enquanto transita pelas diferentes áreas de Night City ao som da competente trilha sonora, contudo, os defeitos prejudicam a imersão e evidenciou que não dá para confiar inteiramente nos estúdios por mais que em outras situações tenham feito excelentes trabalhos, no caso da CD Projekt Red a franquia de The Witcher um dos jogos mais premiados de todos os tempos.
Quem quiser pode tentar aproveitar promoções do jogo na sua versão física constantemente com quedas de preço, lembrando que a versão digital está indisponível na PSN e ainda não há previsão para retornar, mas nas demais lojas online como Xbox e Steam continua lá. Aos que preferem novas melhorias o ideal é aguardar um vez que tem muito para ser consertado.
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